terça-feira, 29 de novembro de 2011

dois

Dessa vez vai ser assim: menos saudade, menos choradeira, menos ajuda, menos encheção de saco. Mais força, mais sorriso, mais coisa boa. Largar o que me para, me segurar no que me joga pra frente. Nem que seja a merda de um pé na bunda. Vou pra frente. Sei lá onde vou chegar. Mas se eu tô indo, tá bom. O importante é não parar, nem voltar atrás. O que vale é ir. O destino a gente decide depois.

uma parte de mais uma daquelas histórias que não terminei

"Eu sou advogado. De todas as matérias que me chamavam atenção naqueles testes de aptidão, escolhi Direito. Sempre fui bom em exatas, sempre me dei muito mal em humanas. Se eu não fosse tão apaixonado pela lei, pela justiça, acho que faria Física. Dizem que todo físico é louco e eu poderia acompanhar o Duddy em suas loucuras, mas, por enquanto, continuo sendo só o chato que estudou durante dez anos pra não sair do mesmo buraco. Digo "por enquanto" porque, apesar de não ter mais idade para fazer uma mudança drástica, continuo acreditando que nunca é tarde para recriarmos o fim da nossa vida.
Por falar em vida, passei a minha inteira escrevendo sobre arriscarmos e aumentarmos horizontes, sobre olharmos além do que nossos olhos enxergam, mas esses sonhos pareceram tão impossíveis quando fui realizá-los! É muito mais fácil tomar decisões quando você tem todas as opções na palma da sua mão.
Parte da minha escolha tem a ver com a morte do Fernando. Fernando foi um grande amigo meu, lembro de tê-lo conhecido no colégio. Fazíamos dupla nos exercícios de futebol. Péssimos, claro. Ríamos juntos de como saíamos machucados dos treinos. Mas mesmo assim íamos toda semana, porque queríamos sair com as gêmeas Michele e Mariana. É claro que não tínhamos chance. Sabíamos disso.
Acho que o Fernando foi mais amigo meu que qualquer outro. Eu nunca tinha que dizer nada, ele sempre entendia. E se eu pedia algum conselho, ele sempre deixava a escolha final na minha mão. Foi assim até o ano passado, quando morreu. Dos mais simples problemas aos mais complexos processos, ele me dizia a sua opinião e deixava a decisão final comigo. Ele foi um homem justo, íntegro e honesto. Existem poucos como ele no mundo. E por causa dele e da forma como morreu - num acidente de carro com um motorista bêbado babaca que se safou da cadeia - escolhi Direito."

fui, sou

Já fui muito presa a planos e planejamentos; coisas que me fossem palpáveis e me parecessem viáveis. Hoje? Hoje estou presa a mim mesma e as pessoas que me rodeiam. À felicidade que me passam, a conhecê-las. Hoje estou presa a conhecer, a aprender. Conheço e aprendo com pessoas. Logo, estou presa a pessoas. E pessoas são muito mais fáceis de lidar do que planos estáticos que nunca dão certo.
Eu já fui regrada. Hoje, sou feliz.

- viver é?

- Viver é não ter a vergonha de ser feliz.
- Você diz isso como se fosse o Gonzaguinha!
- Não... - retruquei - digo isso porque me sinto viva!
- Quando?
- Quando eu quero abrir mão, mas a esperança fala mais alto. Quando preciso de ajuda, mas meu orgulho diz “Você consegue sozinha”. Quando eu me sinto completo, percebo que continuo só e isso não parece um problema. Quando me olho no espelho e me decepciono com o que vejo. - ele sorriu. Continuei - Quando perguntam o que sou e não sei como responder. Quando fico convicta do que não quero, mas incerta sobre o que quero. Quando a mesma música repete tantas vezes que não paro de ouvi-la porque me acostumei com a batida. Quando escrevo algo sem ter que parar para pensar. - sorri - Quando eu sorrio, mesmo estando triste, e, então, tudo parece menos cinza. Quando “enfim” é usado para demonstrar uma desistência. Quando a surpresa é tanta que não sei que expressão usar. Quando fico tão feliz que começo a fazer barulhos estranhos. Quando eu gosto da cor do meu esmalte e o repito por semanas. Quando me sinto bonita e quero que todos me confirmem isso. Quando não durmo por noites e alguém se preocupa quando digo. Quando eu tenho um problema e ninguém nota. - abaixei a cabeça. Respirei fundo e sorri - Quando eu me sinto boa em algo e alguém me elogia por isso. Quando não sinto nada de bom há dias e como um chocolate. Quando sinto algo que não sei como explicar e uma música faz isso por mim. Quando já passei por tanta coisa ruim que os problemas dos outros parecem bobagem e posso ajudá-los. Quando meu sorriso parece tão falso que nem eu acredito. Quando duas lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu não consigo mais chorar. Quando eu aconselho algo que não faço. Quando eu abraço algum amigo e não quero e não consigo mais soltá-lo. Quando sou feliz, mas não estou. Quando eu bato em alguém quando quero abraçá-lo. Quando tudo parece ser nada e nada é tratado como tudo. Quando meu cachorro parece me entender mais do que eu mesma. Quando o erro me faz bem. Quando o acerto me leva pro destino errado. Quando estou em dúvida do que vestir e alguém me confirma. Quando alguém me faz sorrir sem nem perceber. Quando alguém me faz chorar e não nota. Quando me sinto só por opção.
- Tudo isso te faz sentir viva?
- Ah, qualé. Eu sou uma escritora. Não tenho direito de dizer coisas inexoráveis?
Rimos.

a junção de várias metades dá uma metade inteira?

Vou me ajudar a juntar. Juntar é mais simples do que parece. E não precisa ter sentido porque, na verdade, não tem. Mas quem foi que falou que precisava ter? Juntei um pedaço da Danni Carlos - o pedaço que diz que meu mundo tá fechado pra visitação; juntei um pedaço da Paula Toller - aquele pedaço que te quer sério; um pedaço da Maria Gadú - o que te perde pra Linda Rosa e conta a história de Lilly Braun; agreguei à um pedaço do Creedence - o que me manda permanecer viva. E é assim que eu tô hoje: juntando tudo, agregando, bagunçando, trazendo junto pra bagunçar mais e, posteriormente, quem sabe, arrumar tudo de uma vez só. Tentando organizar essa baderna que fiz dentro de mim, mesmo sem perceber. Mas não quero coisas no lugar, não quero problemas engavetados. Quero coisas à mostra, gosto do meu desarrumado, da minha confusão particular. Gosto do som da descoberta de um eu diferente, da ideia de não me conhecer por total - quando eu me conhecer, então, terei de procurar outra incerteza pra descobrir -. Prendi meu cabelo num coque querendo liberar a nuca para o vento bater, trazer um pouco do ar do lado de fora. Como vai o sol? Continua nascendo para todos? Ou só para os bons? Todos somos bons. Junte-se a ideia de conhecer o melhor do próximo, exalando seu pior. Procure, encontre. Procurei, procuro, procurarei. Espero não encontrar - não tão cedo. Estou descobrindo, linha por linha, o que procuro. Cada linha da minha vida me remete à algo que passou e me liga à algo que ainda virá. E é assim que vou indo, até o dia que encontrarei. E então, todas as outras linhas farão sentido. Encontrarei, portanto, a junção de tudo. E começarei a juntar tudo novamente, me juntarei às junções antigas. Junto, próximo, bagunçado, desorganizado. Pronto pra juntar, de novo.