domingo, 26 de fevereiro de 2012

encontre-se, você mora em si mesmo

Quando eu era mais nova, acreditava que todas as coisas tinham seu lugar no mundo. Eu tinha lá meus nove, dez anos quando assisti a um desses desenhos que passavam na minha infância. A personagem - que eu não lembro o nome, nem se era uma menina - acabava em um lugar para onde, aparentemente, iam as coisas que não sabemos o paradeiro. Ela encontrou uma porta onde ficavam o que perdíamos ou abandonávamos. Viu alguns brinquedos, roupas, o amigo que estava procurando e... O resto do desenho, não lembro. Enfim. Cresci. 
Deixei as teorias sobre os lugares não denominados com portas mágicas para lá - inconscientemente, mas deixei. 
E passei a acreditar que cada um de nós carrega consigo suas próprias visões - que, apesar de parecerem absurdamente concretas para o mundo; por muitas vezes, para nós, são uma tremenda bagunça -, princípios, conceitos. E cada um desses itens é um mundo dentro de nós. Um mundo de expectativas, mudanças, tentativas, erros, acertos, começos e finais. Ao contrário do que pensava, hoje acredito que haja um lugar para cada mundo em nós. E são os mundos quem encontram lugar em nós, não nós quem encontramos lugar no mundo. 
Cada mundo carrega sua cultura, tradição, vontade comum, desejos, possibilidades, sonhos, pontos de vista, segredos, fés, angústias. Sim, são muitos. E diferem entre si. 
Somos o que sentimentos, vemos, sonhamos, realizamos e o que nos preenche. E somos preenchidos por esses mundos. Cabe a nós garimpá-los para encontrarmo-nos, encontrarmos o que precisamos e o que somos. Está conosco; em nosso poder - sempre esteve. Mas parece tão difícil de ser encontrado que, por muitas vezes, nos deixamos voltar à infância e acreditar que há um lugar para nós no mundo. E nos diminuímos, nos permitimos ser menores do que está ao nosso redor, quando, na verdade, é o mundo que deve se procurar em nós.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

perdi-me em meio à multidão de coisas vazias

Queria pedir-te um favor. Que você tirasse essas perguntas bobas e esses sentimentos ruins daqui de dentro. Tá ocupando muito espaço e minha cabeça não é tão grande assim. Meu mundo particular é imenso, mas o tanto de coisa ruim que me aconteceu me fez deixar um espacinho tão pequeno pra sentimentos que, essas coisinhas minúsculas preenchem-no todo. Então tira. Tira, por favor, essas chatices e bobeirinhas pequenas de dentro de mim. E, se não der, me enfia um sorriso no rosto. Não sei nem como, mas enfia. Só me tira daqui de dentro. Tem sentimento ruim demais pra um sorriso tão grande quanto o meu. Me perdi no meio desse monte de tralha e tô precisando de ajuda pra me achar. Por favor, me liberta.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

não era hora

Sentado na calçada, ele sorriu; e ela sabia que havia algo errado. Aquele sorriso de canto de boca que mostrava três ou quatro dentes, que fazia sua barba se mover e abaixava sua cabeça. Era tudo um ato só. O sorriso, a barba, a cabeça baixa e o sentimento cabisbaixo. Ela nada mais fez, encheu-lhe de abraços e beijos nas bochechas. Ele gargalhava com as cócegas que seus beijos faziam ao seu pescoço, e logo arrepiou-lhe os pêlos. "Pára com isso", ele mandava, tentando não rir. "Tô falando sério," e ria. "tô me contorcendo". Envolvia involuntariamente os braços pela cintura da pequena menina que, apesar de seu tamanho, parecia-lhe um tanto grande quanto a sua força. "Tá, tá, eu não tô bem", ele dizia, rindo. "Mas pára com isso!", ele exclamou. Ela mordeu sua jugular. "Ai, merda. Doeu." A menina sorriu como quem vencia uma guerra e bateu-lhe no braço. "Desembucha. Que tá havendo?". Ela perguntou mesmo que, por força de hábito, parecesse repetitiva. No fundo, ela sabia o que havia. Era o mesmo de sempre, as preocupações diárias com coisas que não lhe cabiam a solução. Ele respirava fundo e coçava os cabelos ruivos enquanto procurava palavras para respondê-la. "Eu...", e fracassava. Ela entendeu que não era hora de dizer. Era hora de esquecer. Porque assim é a vida. Há hora para dizer, hora para esquecer. E aquela era, é claro, hora de esquecer. "Quer uma cerveja?", ela disse. "Por favor", ele pareceu aliviado da amiga tê-lo entendido. E foram para um bar qualquer, desses de esquina. Sentaram-se nos bancos giratórios encostados no balcão e gargalharam a noite toda como se não houvesse nada para se preocupar. E realmente não havia. Enquanto estivessem juntos, com algumas cervejas, quem sabe um ou dois cigarros sendo queimados e sempre a certeza de que os problemas estariam sob controle, pelo menos até o fim do dia, não havia nada com o que se preocupar.

me mantém perto que não te deixo ir jamais

Vem e me encoraja. Me dá o mínimo da vontade máxima de te ter. Me entretém, me mantém, me encanta, me suporta, me protege, me despe. Me faz querer ser seu, que te faço ser. Te faço ser quem nunca foi, quem nunca quis ser, te dou sentimentos que nunca imaginou sentir. Mas, antes disso, me faz acreditar. Me faz acreditar que te dou razão pra não ir. Jamais.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

don't let your faith shake

E quando quase tudo disser pra você que você devia desistir e, por incrível que pareça, o "tudo" está quase dando errado; use o quase e transforme-o em fé. As coisas realmente podem dar errado, mas, se você tem fé, você sabe que no final das contas vai dar certo. Do jeito que você queria, ou não. Sempre dá certo, sempre fica bom, a gente se acomoda, gostando ou não.
E não é um acômodo ruim, não. Confesso que não sou lá a maior fã dos acomodados, mas não tem nada melhor do que estar acomodado na fé de que vai ficar tudo bem. É assim, tão jeitosinho. Tão gostoso e tão bom. Porque é assim que é a vida quando a gente se permite acreditar que vai ficar tudo bem: é boa.
Eu aprendi ontem que o dia sempre nasce pela manhã, apesar da madrugada gélida que traz consigo a vontade de desistir. Mas tenho fé e sei que, as coisas estando como eu gostaria ou não, no fim das contas, a gente sempre acha uma razão - por menor que seja - pra dar um riso de canto de boca e sair por aí cantarolando uma musiquinha gostosa. Gosto da fé só por isso. Pelo acômodo de me fazer acreditar que vai ficar tudo bem. Porque não tem filosofia melhor que essa: sempre fica tudo bem. Vai com fé.

Querido diário,

Fico triste de saber que não posso salvar o mundo inteiro, ou pelo menos a parte dele que eu gosto. A dor deles dói em mim, também.