quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

monomania

Ela tocou na palma das minhas mãos e, por um segundo, pude sentí-la por inteiro, como alguém real e que, de fato, estava ali. Virei o resto da bebida e agradeci por poder tocá-la. Devo tê-lo feito em voz alta, ela sorriu. Não podia me importar com isso, não mais, não agora. A moça, o toque, a bebida, o cigarro. Não podia, porque a importância que deveria ter sido dada já tinha sido dada e foi dada e tantas coisas já haviam sido dadas: importância, amor, beijos, desconsideração, ódio. “Por que você ainda está aqui?”, ela perguntou. “Por você”, pensei, não disse, mas pensei. Sorri. De certa forma, as coisas estavam fadadas a serem assim. Pensamentos não ditos, bebidas sempre acabadas, maços vazios e infinitas histórias e respostas escondidas no silêncio de um sorriso sem dentes que expressava tudo o que eu não podia, mas queria, queria e como queria, mas não podia dizer.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

a palavra com "a" de amor

O que tem de errado? Talvez eu também não saiba dizer. O que eu sei é que, se tá tudo errado agora, me isento da culpa. Eu fiz de tudo. Fui atrás, engoli, menti, fingi, mascarei, achei que tava tudo certo, me expus. Eu tentei. Todas as vezes que pude, até não conseguir mais, usei aquela palavra - amor - pra explicar as burrices que fazia. Tentei. Agora não dá mais. O que tem de errado eu não sei. Sei que eu tentei até não dar mais e não deu. A culpa pode não ter sido sua, mas não deu certo. Aliás, a culpa foi sua. Não deu certo porque você não quis, não tentou, não foi atrás. Se acomodou a ideia de me ter quando precisasse, se acomodou com a imagem de estátua de pedra que tinha de mim. Você não quis, e não teve. Mas isso você não percebe, não sente. Não se entregou, não abriu mão do que você tinha antes.
Você pediu confiança, apesar de não ter me dado razões pra confiar. Confiei. Quebrei a cara.
Agora, aquela palavra com "a" de amor, o amor... Eu o uso pra justificar porque tô tão bem. Acho que quando amamos, nós ficamos tristes só até não dar mais. Não deu. Aí parou.
Mas te peço uma simples coisa: entenda que eu não desisti. Eu prometi que tentaria até não dar mais. E não deu.
01/12/2012

insônia insana

agora neste espaço-tempo hoje quando minha cabeça desperta sem dó sentimentos enterrados e mistura com sentimentos florescidos e bagunça toda a zona uma vez já embonitada que foi, mais uma vez, bagunçada, misturada; e foi esquecida toda a segmentação e categorização onde você foi colocado nos perdidos, porque os achados estão próximos e têm seus donos; mas lá onde você foi colocado, nos perdidos, existem diversos sentimentos que não têm donos, não têm dó nem piedade, mas têm apenas rancor dor excesso de lágrimas excesso de entrega e excesso de excessos e escassez de qualquer coisa pura e indubitavelmente carente de compaixão, pois são sempre invasores como desabafos e perfuradores como faca de três, quatro gumes, já que a faca de dois gumes das vezes anteriores ainda não foi retirada - pelo contrário, está nos perdidos juntamente com este sentimento agora desenterrado; e a faca de quatro gumes que agora estes sentimentos são pra mim não me deixa escolha senão a fuga, pois quaisquer que sejam as razões pelas quais eles voltaram a florescer, agora de uma forma mais bonita com outra cor outro aroma outro sabor, as mesmas razões farão com que vão embora assim que eu puder me encantar, então não me encanto não canto não danço não leio não amo não amo não amo e repito mais uma vez para que não existam esquecimentos: não amo porque o amor dói e não dá escolhas e toma as rédeas e foge dos planos e acalenta e esquenta e depois esfria e congela e não há nada que se possa fazer a não ser procurar por meios de não amar, por mais pejorativo que seja à qualquer forma de não-redundância dizer assim, mas que seja, que fosse, que esteja, tanto faz como tanto fez, quem se importa?, se não há amor não há importância; não me importo não sei não sou, simplesmente fujo e fujo e fujo e quem sabe hora ou outra algo me para e me convence, mas enquanto não, não me deixe sair simplesmente sem explicações e não me deixe ficar se não me entender, mas principalmente não me deixe, porque não estou disposta a lhe deixar

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

diário falado

só que dessa vez eu tenho que falar. então por mais óbvia que seja a solução, me deixa fingir que ela não existe. preciso falar, porque tem uma coisa entalada na minha garganta que dorme, sonha e acorda comigo; e parece que ela se aproxima cada dia mais. quero só que você me escute. essa coisa da qual falei tem sido um porre. ela me persegue e eu fico entalada, mas engolindo. sabe quando a gente só finge que não é nada demais? mas no fundo é demais... tão demais que a gente opta por extravasar dos jeitos mais errados: nos excessos. tô ligada que eu sou o excesso mais estranho do mundo. leio demais. mas a ressaca literária é absurdamente matadora! eu meio que fico horas, dias, semanas num universo paralelo. meu estado é kinda alfa e... never mind. acho que todos os meus autores estão certos: love cures it all, baby. deve curar, mesmo. porque é a única coisa que eu não tentei. e jonathan safran foer disse "love me. because love doesn't exist and i've tried everything that does". será que dá pra gente comprar amor num potinho? eu ia gostar. acho que ia passar um pouco dessa coisa de fica na garganta. anyway, vida continua, a dor também. hora ou outra eu calo a boca. 'cê tem algo a dizer pra me melhorar? não, né? imaginei. pede outro café pra mim.

domingo, 29 de julho de 2012

criações ou realizações

Opto, geralmente, pelo mais complicado. Só pelo prazer de, talvez, um dia, olhar pra trás e dizer: “Fiz o meu melhor. Pelo mais difícil. E consegui”. Porque eu talvez tenha uma pontada de orgulho, meu bem. E que bom! Imagina que chato não seria se, talvez, por descuido, eu me mostrasse fraca e rastejasse aos teus pés sempre que te visse? Não creio que gostarias. Costumas dizer que a vida é um relance, que passa. Um ano ou dois lutando por algo que gostas não faria mal. Se não der certo, não deu. Tocaria nas horas vagas, disseste. Amo o tempo todo, disse. Pudera eu, talvez, entender o que você diz. De quando em quando me pergunto se és isso tudo que vejo ou se és só parcela disso, enquanto boa parte da baderna eu mesma criei para que tu te tornasse alguém admirável. Olho ao meu redor. Te conhecem. És assim. Se tudo que vejo de ti é real, por que raios escrevo isso num papel em branco que posteriormente acabará num arquivo morto e não numa carta bonita e perfumada que seria entregue diretamente a ti? Creio que… Não sei mais no que creio. Não sei exatamente até onde és o que és e até onde és o que espero que tu sejas para que venhas e cures minhas dores. Dores sombrias e intermitentes que não cessam. E não minto. Não cessam. Escondem-se. De tempos em tempos, escondem-se. Amarguram-me quando penso que cessaram e, subitamente, voltam.Te criei para que curasses essas dores. E então, continuas sendo apenas um relance da minha mente, uma criação do meu espírito. A resposta à minha solidão. Solidão afetiva - é assim que chamam. Te criei para que subitamente viesses e me beijasses e me encantasses com uma de suas melodias finitas - pois findam em algo bom, em um sorriso teu em resposta a um sorriso meu carregado de admiração e orgulho. Se não podes corresponder a esses montes e montes de sentimentos bagunçados, peço: guarda-me contigo. E leva-me além.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

palavras arrancadas de um diário mantido sob sete chaves

e de novo vens e apareces como alguém que fez parte de um lindo livro que li e subitamente me roubaram e cansas minha mente ao fazer-me indagar o que diabos podia estar errado em ti, porque dizes que era algo ruim que se espalhava sem cura, mas não me coube aceitar esta verdade, pois a mim só cabe a escolha de no quê acreditar, porque escolheste esta para que fosse tua verdade e tomei por não aceita-la como absoluta; poupando-me de inexpressivas razões e passei a indagar-me até onde tu foste e até onde és e, mais importante, talvez, seja indagar-me e descobrir até onde e quando, não sei, continuarás sendo, pois há uma imensidão de razões porquês meios jeitos instintos dúvidas sentimentos e lamentações diretamente ligados a ti e não é como se houvesse nexo ou sanidade envolvidos nisto que és, eras, tem sido e ainda serás para mim ou para qualquer outro que hei de ser ou que hei de ter sido hoje, quando o hoje se tornar anteontem num futuro próximo que parece retroceder ao invés de avançar quando por um descuido ouço teu nome e lembro-me das muitas, tantas vezes que ousei perguntar-te se havia forma alguma de reverter esta situação fula, vazia e sonolenta em que te colocaste por conta de uma porção de fatos verídicos ou não e, porém, totalmente vivos e insanos, sem nenhuma gota de amor, sequer; e levas-me a ter todo amor que me cabe e a procurar pelo amor que não me cabe, também; e me afliges quando olhas, mas não me vês e não enxergas o efeito que tinhas tido em mim e não tens porque não há mais razão para ter, levando em conta que tudo o que sou nasceu de ensinamentos sem essência de alguém que não viveu teu primeiro conselho e, consequentemente, entregou-se às forças que o envenenariam e, enfim, cegou-se a si mesmo.

sábado, 19 de maio de 2012

would you come with me if i smile to you?


Então me dá uma risadinha, assim, de canto de boca, só pra eu saber que tá tudo bem. Eu não sei bem quem errou, o que fez, por que fez, se fez. Não quero saber quem fez merda dessa vez. Só sei que tô odiando a ideia de não poder te abraçar e te dizer que te quero por perto. Tô odiando te ver com cara triste porque eu, você, alguém num espaço-tempo entre ontem e hoje fez alguma coisa que não devia e a gente se bagunçou. Não gosto disso, não gosto de te ver assim, não gosto de me ver assim. Não gosto de me ter quando me ter significa que você não me tem. E tem. E você tem, tem tanto de mim que me perco sozinha. Gosto muito do que sou quando você tá por perto. Então o que eu te peço é uma risadinha. Um sorrisinho frouxo que for, só pra eu saber que tá tudo bem. E que, se não tiver, vai ficar. 


a gente sempre sabe


Mas é que, no fundo, a gente sabe. A gente sabe bem que não deve ligar, que deve arranjar um outro por aí com quem rir e passar um tempo bom junto. No fundo, a gente sabe que não dá pra ficar se lamentando; a gente sabe que lamentação e choradeira não resolvem nada. No fundo, a gente sabe de tudo que dizem pra gente. A gente só precisa de alguém que reforce tudo que a gente sabe, e mostre pra gente que tudo bem. Tá tudo bem se a gente errar no caminho, tropeçar querendo apressar as coisas. A gente só precisa ouvir que tá tudo bem ter vontade de desistir as vezes. E, às vezes, a gente acaba encontrando nesses tropeços gente legal que tropeçou, levantou e acabou conseguindo impulso pra continuar seguindo. Porque, no fundo, a gente sabe que a dor não dura pra sempre e que a vida não pára pra gente tentar arrumar a baderna. No fim das contas, a gente acaba caminhando por aí com as coisas nas costas, coisas que pesam mais do que devia, mas dividindo com gente que a gente sabe que também tem coisa pesada pra levar. Mas a gente sabe que é mais fácil de encarar isso tudo que a gente sabe se tiver alguém com a gente pra gente lembrar que, no fim, tá tudo bem. Porque a gente sabe que, no fim das contas, fica tudo bem.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

:~

Não sei em que ponto da história você apareceu. E não sei nem se você vai fazer parte da história. E não sei nem se você apareceu ou se só te coloquei lá. Me perguntei esse tempo todo se haveria alguém aqui. E agora você tá aqui. Seja "aqui" onde for. E veio em forma de sorriso, som, abraço e uma avalanche de sentimentos bons. Aproveitou e trouxe o frio na barriga, o nervosismo e as ações não-pensadas. Te gosto. Me gosta?

quarta-feira, 2 de maio de 2012

pensamento do dia

Tenho fé na vida, nas pessoas, nas coisas, na noite que nasce, na flor que brota; mas, mais que tudo, tenho fé em uma coisa sobrenatural - Deus - que é mesmo antes do caos, que foi um dia e creio que tudo isso ocorra deliberadamente no tempo. Tempo, este, que é seu próprio senhor - por não ter tido começo e não ter fim, simplesmente por ser tempo - coisa que acontece e sobre o que nós não temos controle.

Ufa.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

uma grande bagunça de nada com coisa alguma

Não sei bem o que pretendo escrever, mas sei que existe algo a ser dito. E não queria que isso soasse como uma confissão. 
Em primeiro lugar, quero deixar claro que eu gosto de café. Puro, forte, quente, com pouquíssimo açúcar e muita canela. E isso deve ter algo diretamente relacionado com o meu mau humor de todos os dias. Não sei se sou mau humorada ou só mal resolvida. De qualquer forma, não faz diferença. O importante é: eu não sou muito adepta a emoções demonstradas livremente. 
Tenho tendência a me estressar com qualquer assunto que contrarie a minha verdade. E isso acontece por quê? ...não sei. E também não sei se quero saber. Qual seria sua relevância? Por muitas vezes escolho a dúvida, porque a certeza não me faria diferença. É claro que saber o porquê do meu stress pode me trazer pra mais perto da solução, mas e se eu não fosse irritada como sou? Eu resolveria meus problemas tão bem? Ajudaria os outros? Teria tamanha compaixão? Tamanha curiosidade pelo mundo afora?  
Creio que não. Alguns problemas e características negativas são significativos para qualquer que seja a pessoa à quem são atribuídos.
Gosto muito de desenhar, mas não sei. Não sei fazê-lo bem e não sei o que fazer pra melhorar. Confesso que não  me esforço muito, porque não ligo de pintar tortinho. Nem de tremer e nem de ter pessoas vesgas em todo desenho que faço.
Na verdade, até gosto dessas coisinhas. É claro que preferiria desenhar super bonito e ganhar dinheiro como ilustradora free-lancer desde os quinze anos de idade. Mas isso não acontece, então... me contento com a feiurinha e a falta de perfeição no meu traço. Faz parte.
Gosto muito de ler. Leio pelo menos meia dúzia de contos ou crônicas por dia. Sem exageros. Se pudesse leria o dia inteiro. Não leio, porque nunca encontro uma posição confortável. No ponto ápice da história a coluna dói e me desconcentro. Até achar um lugar onde meus braços não se movam, minhas pernas não cambaleiem e minha coluna não doa, já deu a hora de ir pro banho, de ir pra aula, de voltar pro trabalho ou de ir dormir. 
Eu vivo plugada no computador. Leio notícias, converso, testo diversos tipos de programas, escrevo, fuço, encontro artistas, compartilho tudo quanto é tipo de coisa legal, ouço músicas, conheço ilustradores e desenhistas mirins... Enfim. É quase útil, se não fosse completamente inútil. Porque quando eu saio do computador e vou pra aula, o que conta mesmo não é quantos livros eu li no final de semana ou quantos milhões o deputado da cidadezinha do sertão nordestino roubou. O que importa é qual é o valor do cossecante de x quando y=3cossecx.tgx/2senx. E quanto vale pi. E quantos milhões de hemoglobinas existem no meu corpo. E como chama a mulher que fez o Rei Inglês mudar a religião da Inglaterra para o protestantismo. E como é o nome da fase da meiose em que acontece o crossing-over.
E, no fundo, eu sei tudo isso. Só que não sei a relevância que isso pode ter na minha vida. Quero dizer, sei que tem a ver com a educação. E que pessoas bem educadas têm menor tendência a cometer crimes e maior possibilidade de cursar uma boa universidade e ter um futuro promissor. Mas não faz diferença, no fim das contas. Porque ninguém ensina na escola o que fazer quando você não está feliz com uma situação e não tem para quem correr. Ninguém ensina o que fazer quando você sai da casa dos seus pais e tem vontade de voltar pra toca. Não tem uma disciplina escolar que explique detalhadamente como superar uma decepção com alguém que você confiava. Não tem manual pra superar a perda.
Mas confesso: eu amo estudar. Aprender mais sobre essas coisas que não me ajudam em nada no futuro. Aprender esse monte de blablablá que é a vida das pessoas dos séculos antes de mim. E aprender a matemágica da fé. E ler literatura; me entupir de realismo e classicismo. 
Eu brinco com meu cachorro. E me jogo no chão pra ele não cair. E o aperto como se fosse a última vez que pudesse apertá-lo. Porque um dia vai ser. Meu cachorro já foi atropelado e quase morreu. Foi uma semana de medicamentos fortes e sem poder brincar. Uma semana de chororô e leitura sobre "como age um cachorro que está prestes a morrer". A veterinária deu a ele apenas quatro dias. Sete meses atrás. 
Isso me faz mais feliz. Esse amor pelo Bob, por aprender as coisas, pela leitura, pelo desenho torto, pelo artesanato mal feito, pelo café sem açúcar. 
E eu continuo mal humorada, mas feliz. E chata, mas feliz. E torta, mas feliz. E inconstante, mas feliz. E bem informada, mas feliz.
Isso basta.
Pelo menos pra mim.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

- posso fugir? - de quem? - de mim

Eu acho difícil essa coisa toda de pensar. Não é que eu não goste, só não sei encaixar meus pensamentos muito bem. Venho me confundindo. Não sei mais se o problema sou eu ou se são as outras pessoas. Não dá pra determinar quem tá certo e quem não tá. Só sei que dá vontade de desistir. De jogar tudo pro algo e fingir que não é comigo. Só por um dia. E reclamar de tudo. De todos. De mim, até. O problema é que quase nunca a vida dá pra gente a oportunidade de morar no azul, como pedia Tom Jobim. A vida aperta contra a parede e o máximo que sai é uma vontade imensa de ter paz. Só que, às vezes, não dá. E a gente não pode fazer nada. Só esperar passar. E uma hora passa. Ou a vida larga, ou a gente desiste da paz.
No fim das contas, tanto faz.

domingo, 22 de abril de 2012

futuro

"Eu sou jovem, tô na época de curtir. No futuro eu começo a me preocupar com isso." Seu futuro já começou, camarada. O hoje já é futuro de ontem. E o amanhã será futuro de hoje. E hoje já é futuro. E ontem também foi. E você tá aí parado. Gozado, né?

quinta-feira, 19 de abril de 2012

miscelânea

Eu ouço que sou forte, fria e fechada há tanto tempo que acho que tô acreditando. Não sei mais o que é sentir e falar, expor, reclamar. Guardo, reprimo, espero passar. Sei que, por muitas vezes, a culpa é dos outros. Mas a culpa também é minha. Que não falo, não solto, que prendo e boto máscara.
Não tô aqui pra dar lição de moral, não tô aqui pra pedir ombros. Tô aqui pra constatar: eu não sou tudo isso. Talvez até tenha uma parte de mim que chegue a ser, algumas vezes, quando necessário. Porque não é da conta e nem culpa de ninguém o que eu sinto ou passo na vida. Mas eu não sou tão forte quanto pareço, nem tão fria e fechada a ponto de ser perceptível. Só parece que eu não tenho problemas e me estresso do nada. E só.
E não tenho nenhuma necessidade de contrariar quem me disser que sou esquentadinha e que me importo demais. Eu me importo, porque gostaria que se importassem comigo também. Não pra me dizer o que fazer, mas pra não desistir de mim. Porque, em algum ponto de história, alguém sempre desiste. E foge. E some. E volta depois. Inventando uma dor de cabeça ou uma semana de provas que durou uma tempestade inteira. Mas volta. E pra mim tá bom assim. Se voltar, tá bom. 
Aí eu ouço que eu sou mais racional que a maioria. Jura? Jura mesmo? Ah, que choque. Nunca notei. Nem mesmo quando assisti quatro anos de amigas diferentes chorando por uma mesma razão. Nem quando assisti um colégio inteiro chorando por uma mesma razão. E nem mesmo quando vi amigos ainda mais velhos cometendo a mesma burrada por não usar a razão. Tem gente que tem que se ferrar pra aprender. Prefiro aprender com os erros dos outros e procurar não cometê-los. 
Por isso sempre quero conhecer mais gente: pra errar cada vez menos. E a perfeição eu sei que não vou atingir, mas quero aprender o máximo que puder e melhorar cada vez mais. E parecer cada vez mais forte, fria e fechada. E talvez, um dia, ser isso tudo. Mas, até lá, tem chão. E quero chegar lá com o mesmo sorriso no rosto. E os mesmos braços estendidos. E os ombros sempre disponíveis. E um coração enorme e amor pra dar de balde. E uma vida inteira pra compartilhar.

quinta-feira, 22 de março de 2012

outono, Tempo, café e devaneios (aparentes)

Não sei o que há de tão belo no outono que me faz sorrir tanto assim.

Entendo que seja algo a ver com o verde no chão. Tenho certo apreço pelo tapete natural que há nas ruas nessa estação. Preciso admitir que, quando eu era mais nova e varrer tais flores fazia parte das minhas tarefas diárias, o outono era a estação que mais me irritava.

Admiro ainda mais o gosto do meu café rotineiro nessa época. Encho mais e mais xícaras, apesar de meu pai irritar-se com tal hábito. Nunca fui o tipo de menina que se importava com coisas femininas como maquiagens ou roupas cor-de-rosa, mas minha vontade de ler livros literários e beber baldes de café (só em dias frios) me acompanha desde os dez, onze anos. Isso é muito, se levarmos em consideração que... não há o que ser levado em consideração.

Me perdi.

Parei pra pensar nessas frases de impacto que encontro por aí.

(é isso que dá tentar escrever sem música instrumental nos ouvidos... os pensamentos invadem)

Imagine só se um dia você acorda e tem um treco (é, um treco. Um negócio. Imagine-o como for) preso na sua porta, dizendo "Oi. Eu sou o Tempo. Vim aqui pra te pedir, por favor, pra parar de dizer que eu resolverei as coisas. É que tô engordando tanto. Eu não consigo nem mais tentar ajudar as pessoas, não passo na porta delas. Tudo quanto é coisa que acontece no mundo dizem que o Tempo vai curar. Eu sei, eu sei que eu ajudo. É que... Sabe? É tanto "O Tempo cura" que as pessoas nem me ajudam mais, sabe? E eu adorava ajudá-las, elas ficavam tão bonitas depois. Dava trabalho. Algumas me tomavam três, quatro de mim. Mas era recompensante olhá-las nos olhos depois e vê-los brilhando. Era bom enchê-las de felicidade e esperança. Sentimentos bons. Agora não dá mais, não querem mais minha ajuda. As pessoas, agora, gostam tanto dessa tal doença que chamam de amor que não se preocupam em tentar me ajudar. E aí eu fico cheio de coisas, doenças pra curar e incho. Só queria te pedir. Eu sei que esse é o jargão que você mais usa, mas é que não aguento mais. Agora, me ajuda aqui que tô preso. Essas portas já foram mais largas..."

Que estranho, né? Mas até que faz sentido.

Esse é o tipo de coisa que passa pela minha cabeça quando eu olho pela varanda da sala numa tarde qualquer de outono e vejo um tapete de folhas secas se formando, enquanto tomo uma bela xícara de café.

Até que não me perdi tanto...

Ou será que me perdi e nem vi?

segunda-feira, 19 de março de 2012

you can drive yourself crazy

Confio em você
Ao contrário dos outros
Teu encanto não me encantou
Tua a graça não me fez rir.

Confio em você,
Ao contrário dos outros

Você não existe
E não entende
E não.

E some
E aparece
E some
E não vejo
Mas sinto.

terça-feira, 13 de março de 2012

positive vibrations?

E, subitamente, todo mundo se vai e me vejo só com minhas cores. Minhas cores, vibrações positivas, paz, fé... E isso não é ruim - muito pelo contrário, é ótimo. Eu só não sinto como se tivesse algum lugar onde colocá-las.

segunda-feira, 5 de março de 2012

e o tempo não te deu tempo

Você acordou hoje e decidiu pedir desculpas à sua namorada por tê-la deixado esperando na frente do restaurante pela segunda noite seguida só porque estava cansado demais pra desviar do caminho pra casa. Como compromissos, um almoço com o gerente de uma empresa que quer fechar negócio com a sua; uma ligação pra outro cliente no final da tarde, três pedidos grandes para apresentar à direção e, é claro, a pausa pro café das quatro com seu melhor amigo. Mas, antes disso, antes de dar tempo de ir almoçar, ali, encaixado entre a ligação  e o café, você morre. Simples assim, bate as botas. Deixa os compromissos do dia e do resto da semana. Acabaram-se as reuniões, o dinheiro, a fila do pão, o café, o troco em bala da mercearia, o celular apitando, o constrangimento. Ficou pra trás os compromissos da vida - ah! se você soubesse que morreria assim, de uma hora pra outra, não teria se esforçado tanto no primeiro período da faculdade pra decorar aquelas fórmulas de Logística. 
Mas o pior, o pior mesmo, não foi nem ter morrido. Foi não ter dado tempo. E não deu. Não deu tempo pra dizer pra sua namorada que você a amou desde o primeiro beijo. Não deu nem tempo de saber se tinha espaço permanente pra você na vida dela. Não deu tempo pra avisar pra sua mãe que você sente muito por todas as dores de cabeça que você causou. Não deu tempo de agradecer pro seu chefe por não ter te demitido depois das milhares de vezes que ele te flagrou no Facebook durante o expediente. Não deu tempo de conhecer todas as bandas de rock antigo do mundo, não deu tempo de conhecer todos os dezenove países e sessenta e três cidades que você sempre quis conhecer. Não deu tempo de cursar quatro faculdades diferentes, não deu tempo de ter três filhos, não deu tempo de ver seus netos. Não deu tempo de dizer que a sua geração era melhor, não deu tempo de dar tempo de assistir TeleCine Cult. Não deu tempo de comprar uma cadeira de balanço pra sua casa da praia, não deu tempo de buscar seu terno na lavanderia. Não deu tempo de casar. Não deu tempo de aprender a tocar banjo, não deu tempo pra assistir a maratona da sua série favorita na TV. Não deu tempo de transar todas as vezes que você esperava transar antes de morrer, não deu tempo de cumprir a lista de requisitos pra ter o emprego que você sempre sonhou. Não deu tempo de trocar de pantufas e não deu tempo de cantar no chuveiro. 
E a vida passou. Passou, você nasceu, começou uma história, a escreveu, tentou vivê-la e, no meio do caminho, entre uma palavra e outra, deixando muitas coisas para ainda serem escritas, a tinta da sua caneta acabou. Não teve quem pudesse te emprestar outra, nem alguém que pudesse te avisar a tempo para comprar uma nova. O tempo te avisou que estava no fim, mas, assim como fazia com todos, você não o ouviu.
A vida passou. Não te deu tempo pra fazer tudo o que você sempre quis, não te deixou cumprir suas promessas. Não te permitiu amar até que a morte os separasse. Você não percebeu, porque não teve tempo pra isso, mas a sua história acabou sem final.

quinta-feira, 1 de março de 2012

siga em frente

Não avançar é sempre retroceder.

ela é a menina que eu mais gosto no mundo

- É que... mãe, tem uma menina que mora aqui na rua de baixo. E... - ele abaixou a cabeça e corou.
- É a Maria Fernanda, Cadu? - a mãe perguntou, ajoelhando-se para ficar do tamanho dele.
- É, mãe, é... É que... ela é legal, sabe? E a rua toda diz que ela gosta de mim. E eu acho que eu gosto dela também, mãe. - escondeu o rosto nas mãos.
A mãe com um sorriso enorme no rosto, perguntou:
- E por que você acha isso?
- Às vezes, quando a gente tá jogando bola, ela vai lá na quadra e fica sentada olhando. Eu não tenho certeza, mas tenho uma vontade tão grande que ela olhe pra mim. É que eu sempre olho pra ela, mas viro a cara quando ela vê que tô olhando... Abaixo a cabeça e sempre torço pra ela tá olhando pra mim também. Será que ela tá olhando pra mim, mãe?
- Acho que tá, filho... A Maria Fernanda é uma menina legal. Você devia convidá-la pra comer bolo de chocolate com a gente amanhã!
- Mas, mãe, e se ela disser não?
- E se ela disser sim, Cadu? Você é um homem ou um saco de batatas? - a mãe brincou.
- É que, mãe, eu tenho tanto medo... É estranho, porque eu gosto de sair correndo atrás das borboletas com ela. E ela não tem medo de se jogar na lama que nem as outras meninas. Os meninos vão me zoar tanto quando eu disser isso. - Cadu entristeceu sua fisionomia e baixou a cabeça no ombro da mãe, já sentada no chão.
- E se você gostar dela e ela gostar de você, Cadu?
- Aí a gente vai namorar, né, mãe? E depois a gente vai casar. Ela disse que quer ter quatro filhos. Eu acho que são muitos, mas dou conta, se ela quiser dar conta comigo...
- Mas casamento, já? Você só tem nove anos!
- Ah... ela é a menina que eu mais gosto do mundo inteiro. E nem precisei conhecer todas as meninas do mundo pra saber disso. Não ligaria de usar bengala com ela do lado, mãe.
- É, Cadu... Você tem muito o que aprender ainda...
- Ué, mãe, não é isso que acontece quando as pessoas se gostam? A gente namora, casa, tem filhos, cuida deles, envelhece, olha os netos, primeiro eu morro e aí ela morre... Que nem nos filmes.
- É, filho, é sim... Chama a Maria Fernanda pra vir comer bolo com a gente amanhã.
- Mãe, só uma coisa... Ela disse que prefere que a chamem de Mari. Você...? - ele pediu.
- Tudo bem. Agora vai tomar um banho e se trocar que o jantar tá quase pronto. E preciso preparar o bolo da Mari... - e gargalhou.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

encontre-se, você mora em si mesmo

Quando eu era mais nova, acreditava que todas as coisas tinham seu lugar no mundo. Eu tinha lá meus nove, dez anos quando assisti a um desses desenhos que passavam na minha infância. A personagem - que eu não lembro o nome, nem se era uma menina - acabava em um lugar para onde, aparentemente, iam as coisas que não sabemos o paradeiro. Ela encontrou uma porta onde ficavam o que perdíamos ou abandonávamos. Viu alguns brinquedos, roupas, o amigo que estava procurando e... O resto do desenho, não lembro. Enfim. Cresci. 
Deixei as teorias sobre os lugares não denominados com portas mágicas para lá - inconscientemente, mas deixei. 
E passei a acreditar que cada um de nós carrega consigo suas próprias visões - que, apesar de parecerem absurdamente concretas para o mundo; por muitas vezes, para nós, são uma tremenda bagunça -, princípios, conceitos. E cada um desses itens é um mundo dentro de nós. Um mundo de expectativas, mudanças, tentativas, erros, acertos, começos e finais. Ao contrário do que pensava, hoje acredito que haja um lugar para cada mundo em nós. E são os mundos quem encontram lugar em nós, não nós quem encontramos lugar no mundo. 
Cada mundo carrega sua cultura, tradição, vontade comum, desejos, possibilidades, sonhos, pontos de vista, segredos, fés, angústias. Sim, são muitos. E diferem entre si. 
Somos o que sentimentos, vemos, sonhamos, realizamos e o que nos preenche. E somos preenchidos por esses mundos. Cabe a nós garimpá-los para encontrarmo-nos, encontrarmos o que precisamos e o que somos. Está conosco; em nosso poder - sempre esteve. Mas parece tão difícil de ser encontrado que, por muitas vezes, nos deixamos voltar à infância e acreditar que há um lugar para nós no mundo. E nos diminuímos, nos permitimos ser menores do que está ao nosso redor, quando, na verdade, é o mundo que deve se procurar em nós.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

perdi-me em meio à multidão de coisas vazias

Queria pedir-te um favor. Que você tirasse essas perguntas bobas e esses sentimentos ruins daqui de dentro. Tá ocupando muito espaço e minha cabeça não é tão grande assim. Meu mundo particular é imenso, mas o tanto de coisa ruim que me aconteceu me fez deixar um espacinho tão pequeno pra sentimentos que, essas coisinhas minúsculas preenchem-no todo. Então tira. Tira, por favor, essas chatices e bobeirinhas pequenas de dentro de mim. E, se não der, me enfia um sorriso no rosto. Não sei nem como, mas enfia. Só me tira daqui de dentro. Tem sentimento ruim demais pra um sorriso tão grande quanto o meu. Me perdi no meio desse monte de tralha e tô precisando de ajuda pra me achar. Por favor, me liberta.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

não era hora

Sentado na calçada, ele sorriu; e ela sabia que havia algo errado. Aquele sorriso de canto de boca que mostrava três ou quatro dentes, que fazia sua barba se mover e abaixava sua cabeça. Era tudo um ato só. O sorriso, a barba, a cabeça baixa e o sentimento cabisbaixo. Ela nada mais fez, encheu-lhe de abraços e beijos nas bochechas. Ele gargalhava com as cócegas que seus beijos faziam ao seu pescoço, e logo arrepiou-lhe os pêlos. "Pára com isso", ele mandava, tentando não rir. "Tô falando sério," e ria. "tô me contorcendo". Envolvia involuntariamente os braços pela cintura da pequena menina que, apesar de seu tamanho, parecia-lhe um tanto grande quanto a sua força. "Tá, tá, eu não tô bem", ele dizia, rindo. "Mas pára com isso!", ele exclamou. Ela mordeu sua jugular. "Ai, merda. Doeu." A menina sorriu como quem vencia uma guerra e bateu-lhe no braço. "Desembucha. Que tá havendo?". Ela perguntou mesmo que, por força de hábito, parecesse repetitiva. No fundo, ela sabia o que havia. Era o mesmo de sempre, as preocupações diárias com coisas que não lhe cabiam a solução. Ele respirava fundo e coçava os cabelos ruivos enquanto procurava palavras para respondê-la. "Eu...", e fracassava. Ela entendeu que não era hora de dizer. Era hora de esquecer. Porque assim é a vida. Há hora para dizer, hora para esquecer. E aquela era, é claro, hora de esquecer. "Quer uma cerveja?", ela disse. "Por favor", ele pareceu aliviado da amiga tê-lo entendido. E foram para um bar qualquer, desses de esquina. Sentaram-se nos bancos giratórios encostados no balcão e gargalharam a noite toda como se não houvesse nada para se preocupar. E realmente não havia. Enquanto estivessem juntos, com algumas cervejas, quem sabe um ou dois cigarros sendo queimados e sempre a certeza de que os problemas estariam sob controle, pelo menos até o fim do dia, não havia nada com o que se preocupar.

me mantém perto que não te deixo ir jamais

Vem e me encoraja. Me dá o mínimo da vontade máxima de te ter. Me entretém, me mantém, me encanta, me suporta, me protege, me despe. Me faz querer ser seu, que te faço ser. Te faço ser quem nunca foi, quem nunca quis ser, te dou sentimentos que nunca imaginou sentir. Mas, antes disso, me faz acreditar. Me faz acreditar que te dou razão pra não ir. Jamais.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

don't let your faith shake

E quando quase tudo disser pra você que você devia desistir e, por incrível que pareça, o "tudo" está quase dando errado; use o quase e transforme-o em fé. As coisas realmente podem dar errado, mas, se você tem fé, você sabe que no final das contas vai dar certo. Do jeito que você queria, ou não. Sempre dá certo, sempre fica bom, a gente se acomoda, gostando ou não.
E não é um acômodo ruim, não. Confesso que não sou lá a maior fã dos acomodados, mas não tem nada melhor do que estar acomodado na fé de que vai ficar tudo bem. É assim, tão jeitosinho. Tão gostoso e tão bom. Porque é assim que é a vida quando a gente se permite acreditar que vai ficar tudo bem: é boa.
Eu aprendi ontem que o dia sempre nasce pela manhã, apesar da madrugada gélida que traz consigo a vontade de desistir. Mas tenho fé e sei que, as coisas estando como eu gostaria ou não, no fim das contas, a gente sempre acha uma razão - por menor que seja - pra dar um riso de canto de boca e sair por aí cantarolando uma musiquinha gostosa. Gosto da fé só por isso. Pelo acômodo de me fazer acreditar que vai ficar tudo bem. Porque não tem filosofia melhor que essa: sempre fica tudo bem. Vai com fé.

Querido diário,

Fico triste de saber que não posso salvar o mundo inteiro, ou pelo menos a parte dele que eu gosto. A dor deles dói em mim, também.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

noites angustiantes, manhãs brilhantes

- Essa foi mais uma das noites que eu achei que não fosse conseguir.
- Conseguir o que?
- Continuar esperando o sol nascer. É o que disseram. Pra eu ter esperança, pois o Sol sempre nasce pela manhã... Mas tem algumas madrugadas que eu sinto como se não conseguisse esperar. A dor é tanta que eu não posso esperar até o sol nascer. Dá vontade de desistir.
- O sol tá sempre nascendo em algum lugar, Ana. Sempre.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

vida?

E a gente tem essa coisa de querer esperar que a vida melhore. A vida tá acontecendo, sendo melhor ou pior, ela tá acontecendo. E a gente tá perdendo lugar. Fica esperando que as coisas fiquem melhores sem nem tentar melhorar pela gente mesmo. E daí ela passa e a gente perde a vida. Assim, que nem a gente perde a chave ou o papel que anotou algo importante. Porque a gente perde muito tempo esperando que as coisas mudem sozinhas e esquece que a vida não é gente, mas que que nem gente, precisa de um empurrãozinho pra ficar melhor.

a chuva não chove pra sempre

E eu não sei nem porque a gente tem essa mania chata de ficar mal por tanto tempo. Não por ser o tempo todo, mas por ser por tanto tempo. A gente sabe que a tempestade vai passar, que não pode chover pra sempre e que vai ficar tudo claro de novo. Só claro o suficiente, não de menos que precisemos acender a luz, nem demais que precisemos colocar óculos de sol. Só o suficiente pra estarmos aptos a seguirmos normalmente. O dia fica claro de novo, não dá pra chover pra sempre. As coisas vão acabar melhorando uma hora ou outra. Uma hora ou outra, a gente supera o que nos magoava, entendemos que as coisas não são como queremos, que não podemos ter tudo que desejamos e seguimos em frente. Porque a gente tem perna pra andar, não pra ficar sentado. Se a gente passa tempo demais ficando triste, a gente esquece como é muito melhor ser feliz. Como as pernas da gente. Se a gente fica tempo demais sentado, as pernas atrofiam e a gente tem que treinar pra andar normalmente de novo, e nem sempre o resultado é perfeito. Enfim, até chegar aí - nisso do dia clarear e a gente se conformar da vida não ser como a gente queria que fosse -, é tanta mágoa, tanto rancor, tanta inimizade, tanta cara feia que chega a incomodar até quem não sabe nem do que se trata. E a gente tem essa coisa irritante de achar que nunca vai passar. Acho que é porque na hora que tá tudo feio, a gente tem mesmo essa sensação de que nunca vai passar. E a gente procura em tudo algo pra gente dar um sorrisinho de canto de tão bonito que é.
Eu sei lá... Já escrevi tudo tão colorido que hoje parece que as frases são todas feias e sem cor. Só me parecem bonitas e coloridas aquelas em que uso ponto de exclamação... Ah!

leve

Vou te dizer uma coisa: aprendi a ser mais carinhosa, mais doce. Com a vida, com as coisas, com as pessoas. Só falta, agora, aprender a ser um pouco mais de tudo isso comigo mesma.

domingo, 8 de janeiro de 2012

validade excedida

Nada dura pra sempre. Passa. Cansa. Esgota. Somos obrigados a desapegarmos. Ou desapega, ou convive por comodidade. Você sabe. Você escolhe.

letter to no one

Foi bom ter passado por isso tudo. A dor, a angústia, as mentiras, as omissões, a falta, a saudade, a impotência... Tudo me fez crescer, ver o mundo de outra forma, perceber coisas sobre pessoas, aprender mais sobre mim. Levou-me ao realismo absoluto em questão de dias e isso foi bom.
Agora chega. Tomei um café quente, aumentei a batida dançante das músicas cotidianas e sorri.

):)

Tenho visto muito pouca gente sendo feliz, e isso vem me motivando cada vez mais a sê-lo.

sábado, 7 de janeiro de 2012

tem história que fica mais bonita quando não tem final feliz

E você gosta de mim, e eu gosto de você. Não é? E você gosta de me beijar assim como eu gosto de te beijar? E a gente ri junto, e chora junto. A gente segura as pontas quando tá junto. Né? A gente se ajeita, se abraça e se entende. E ninguém mais precisa se meter. A gente dá um jeito... Né? E a gente faz história, escreve história e inventa história que ninguém mais vai ouvir. A gente se perde no normal e se acha no fora do comum. E todo mundo diz "mas por que é que vocês não ficam juntos, então? Se vocês se gostam e se dão tão bem...", mas acho que só a gente sabe. A gente sabe que só se dá bem junto, só se ajeita e se entende porque, no fundo, a gente sabe que a gente se gosta, mas que isso desde o começo foi feito pra não dar certo. Porque final feliz é bonito em novela, mas na vida real tem conto de fadas que fica muito mais bonito quando vira história que a gente conta sorrindo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

conclusões de uma tarde perdida ganhando pensamentos

Passei mais um dia invisível. Acordei com uma aparência cansada que ninguém percebia, talvez porque não houvesse razão para tal cansaço. Lutei contra meu sedentarismo imperceptível e fui caminhar na praia. Esbarrei em dois ou três que passavam por mim. Nenhum deles pediu desculpas, apesar de eu tê-lo feito. Estão ocupados com as suas próprias vidas, pensei. Tá aí mais uma coisa invisível para mim: a vida. Andava tão parada que até mesmo caminhar e pensar sobre isso me fazia rir. Isso é um problema?, me perguntava. Estar feliz, quero dizer. Essa felicidade invisível para o mundo e tão clara e... feliz para mim. De vez em quando, parava para olhar o mar. Assim, sentada em um banco qualquer do calçadão, olhando o mar, admirando-o. Sem nem perceber, sorria. E nem sei o porquê. Acho que é o verão. Assim: o inverno me traz tristeza e o verão me traz felicidade. Será que sou tão inconstante que nem mesmo meu jeito de lidar com as coisas permanece igual? Digo, os problemas continuam os mesmos - eles não vão embora junto com o tempo gelado do Inverno. As flores da primavera se desabrocham e os problemas continuam lá. O Sol ilumina o céu de verão e, mesmo assim, os problemas não se vão. Só parecem invisíveis. Ou visíveis, mas viáveis de serem solucionados. Parece que a Mallu Magalhães estava mesmo certa... A vida não é uma concepção, é uma mudança... É, Mallu... A única concepção que temos da vida é a concepção de que iremos mudar. E, às vezes, até mesmo essa concepção é invisível...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

reticências, linha debaixo, parágrafo, letra maiúscula

Quantas vezes precisarei repetir?
O que?
...
Repetir o que?
Eu não sou assim. Posso ser, se eu quiser, mas não sou. Escolhi não ser. Então, por favor, não me obrigue a me cansar. Eu não quero me cansar de você, já estou cansada de coisas demais. E estou vivendo, sorrindo e continuo bem. Por favor, eu te imploro. Não me obrigue a me cansar de você. Entenda que eu não sou assim e dificilmente corresponderei às suas expectativas. Não crie esperanças sobre mim, não me culpe por não saber resolver os seus problemas. Os problemas são seus, é você quem pode (e deve) lidar com eles. Sinto muito.
Acho que eu também.