domingo, 27 de janeiro de 2013

sobre frustrações de novo ano


Creio que a causa da recorrente frustração pós-folia-de-ano-novo-de-não-conseguir-colocar-pretensões-em-prática é o nosso desconhecimento. Nós não sabemos o que queremos e não sabemos onde queremos chegar, logo, objetivamos inúmeras situações inviáveis e BANG: frustração. Nossos objetivos pessoais PRECISAM ser reconhecidos. Não pelos outros, mas por nós mesmos. E talvez você pense "e você acha que eu não sei quais são minhas pretensões?". Sim, acho! Acho, porque nossos objetivos são, por muitas vezes, superficiais: economizar, emagrecer, ler mais, entrar numa faculdade, estudar, passar de ano. O seu desejo é, realmente, estudar mais? Se sim, por quê? Você precisa de uma causa para obter algum resultado. Não existem consequências sem porquês e nem sem ações. Se você não souber o que mais quer, acabará entalando-se de sonhos alheios mascarados de vontades - que não serão saciadas, porque, por não serem suas, ficarão esquecidas em meio aos atolamentos do dia-a-dia.
Junto com a minha mania de organização do quarto e da casa que surgiu este ano, veio outro tipo de organização: a de ideias. A ideia veio de onde? E qual é seu começo, qual é seu meio e qual é seu fim? Imagino que as conversas recebam informações lineares (ou, pelo menos, deveriam) e nossos planos devem ser vistos dessa forma: como coisas com começo, meio e fim.
Se queremos chegar em algum lugar, precisamos de um ponto de partida. Meu objetivo para 2013 é estudar  para entrar em uma boa universidade pública (USP 2014, here I go!). E eu começo estudando; o meio são as aulas intensivas do cursinho e o fim é uma futura aprovação: meu objetivo. É necessário batalhar.
Independente de onde você queira chegar. Nada cai do céu. Se você não correr atrás, não acontecerá. Deus não encheu as mãos de todos com sorte. Não confie nela. Use seus instintos, suas garras. Vá atrás. Corra atrás. Mas saiba por que está indo e para onde está indo. Porque uma pessoa sem sonhos não é uma pessoa, no fim das contas.
Nos afogamos em sonhos que não são nossos e nos frustramos por ideias que não nos pertencem. Acabamos adentrando labirintos e guerras que não nos dizem respeito. Protegemos causas que não nos comovem. Espalhamos sentimentos que nunca sentimos.
Precisamos nos conhecer para podermos evoluir, crescer e sonhar maior. Sonhar nossos sonhos. Sonhos e objetivos plausíveis e plenamente desejados. Sonhos que façam com que nossos corações pulsem. Quando estiver pronto para sonhar, portanto, lembre-se disso: o que faz o seus sentimentos aflorarem, seus olhos brilharem e seu coração pulsar é, sobretudo, aquilo do quê você deve ir atrás. E vá.

Alice está perdida, andando naquele lugar e, de repente, vê no alto da árvore o gato. Só o rabão do gato e aquele sorriso. Ela olha para ele lá em cima e diz assim: “Você pode me ajudar?” Ele falou: “Sim, pois não.” “Para onde vai essa estrada?”, pergunta ela. Ele respondeu com outra pergunta (que sempre de! vemos nos fazer): “Para onde você quer ir?”. Ela disse: “Eu não sei, estou perdida.” Ele, então, diz assim: “Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.” - Alice no País das Maravilhas, de Charles Lutwidge Dodgson.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

História de Edinha (inha, inha)


Meu nome é Edna. Mais simples que Gerusa e mais complexo que Josefa. Edna. Com d mudo. Meu pai me chamava de Edinha até os dezesseis, quando casei com um homem da marinha, cujo nome era mais complicado que o de meu pai, José, e mais simples que o do tio Josebardo. O nome do homem da marinha era Ademir. Ademir Santana. Nunca tinha sido casado antes e, invocado que mantive minha castidade, pediu minha mão em casamento a meu pai, José. Minha mãe, dona Dalva, disse que só era pra casar se eu fosse de amar. Se eu não fosse de amar, era pra dar uns beijinhos e pular fora. Tentei, Ademir não deixou. Ademir era homem brabo, assim, de cara fechada e punho enorme. Nunca tive medo dele. Gostava muito de mim, dizia ele, pra fazer coisa assim. Aí que a gente se casou, mas não durou muito, não. Tivemos seis filhos em sete, oito anos. As crianças tem aí, hoje, seus cinquenta anos, o mais velho. Ainda são crianças, pra mim. Tive o mais velho, Darlan, quando tinha dezessete, dezoito anos. Não lembro muito bem, sempre me confundo. Não terminei a escola, sou boa de matemática não.
Acontece que dia desses fui trabalhar de costureira. Dona Dalva me ensinou a costurar em casa e me meti a ir numa fábrica, dessas que fazem lençol. Dei o currículo e me chamaram pra fazer um teste. Passei. Fui trabalhar lá. Falo pouco, sabem? Não gosto de laúza e nem de gente que mete o bedelho na minha vidinha, inha porque durou pouco, pra mim, porque só considero as coisas boas, então é vidinha de Edinha, amiguinho. E aí eu conheci Maria. Simples como Maria, mais simples que qualquer outro nome. Maria. E era Maria pra cá e Maria pra lá. Diferente de mim, Maria gostava que todos soubessem da vida dela. E falava. Ô, Maria, já tá causando de novo, é, Maria?, dizia a patroa, sempre bem humorada e sorridente. Maria, uma ótima cortadeira que tinha lá suas gafes, mas fazia bem. Sei bem que Maria não ia durar por esses cantos. Falava muito. Patroa era bem humorada, mas gostava de trabalho bem feito e que não xeretassem. Maria xeretava. Minha filha mais nova, Jade – nome chique! Ideia de Ademir – disse que ela, Maria, era muito bisbilhoteira. Gente bisbilhoteira tem que trabalhar com gente bisbilhoteira. Aí Maria foi desligada da empresa, que é o jeito mais bonitinho (inho também, porque de bom só tem que agora fumo meu cigarro sozinha... inha, porque...) de dizer que ela se mandou! A patroa, legal, simpática, mas impaciente pediu pra ela diminuir no blábláblá e aumentar na produção. Maria não gostou e levantou a voz, levantou a bunda da cadeira. Patroa se invocou, deu certo não. As duas quase saíram no tapa e Maria saiu pela porta da frente.
Contei pra Jade e pra Darlan, quando cheguei em casa. Darlan se matou, sem morrer, de rir da cara de Maria: nunca se bicaram. Jade me mandou tomar cuidado, Patroa duas caras, ri na frente, mete o socão atrás, dizia ela. Melhora esse palavreado, Jade!, insistia sempre. Não gosto dessas ideias de bater nos outros, é feio. Feio mesmo. Nunca gostei de Maria muito, também, não, por causa disso: gostava muito de ameaçar os outros. Vou te matar!!!!!!, Maria falava sempre, se invocava, ficava vermelha feito um pimentão. Nunca matou ninguém. Acho eu, que moro sozinha (inha, porque...) e tenho esses meus seis filhões (ões, porque, bem, são meus, são grandes e tudo que vem deles é pra lá de bom) que vem jantar aqui em casa quase todo dia. Gostam do meu risoto de frango.

(Continua)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

monomania

Ela tocou na palma das minhas mãos e, por um segundo, pude sentí-la por inteiro, como alguém real e que, de fato, estava ali. Virei o resto da bebida e agradeci por poder tocá-la. Devo tê-lo feito em voz alta, ela sorriu. Não podia me importar com isso, não mais, não agora. A moça, o toque, a bebida, o cigarro. Não podia, porque a importância que deveria ter sido dada já tinha sido dada e foi dada e tantas coisas já haviam sido dadas: importância, amor, beijos, desconsideração, ódio. “Por que você ainda está aqui?”, ela perguntou. “Por você”, pensei, não disse, mas pensei. Sorri. De certa forma, as coisas estavam fadadas a serem assim. Pensamentos não ditos, bebidas sempre acabadas, maços vazios e infinitas histórias e respostas escondidas no silêncio de um sorriso sem dentes que expressava tudo o que eu não podia, mas queria, queria e como queria, mas não podia dizer.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

a palavra com "a" de amor

O que tem de errado? Talvez eu também não saiba dizer. O que eu sei é que, se tá tudo errado agora, me isento da culpa. Eu fiz de tudo. Fui atrás, engoli, menti, fingi, mascarei, achei que tava tudo certo, me expus. Eu tentei. Todas as vezes que pude, até não conseguir mais, usei aquela palavra - amor - pra explicar as burrices que fazia. Tentei. Agora não dá mais. O que tem de errado eu não sei. Sei que eu tentei até não dar mais e não deu. A culpa pode não ter sido sua, mas não deu certo. Aliás, a culpa foi sua. Não deu certo porque você não quis, não tentou, não foi atrás. Se acomodou a ideia de me ter quando precisasse, se acomodou com a imagem de estátua de pedra que tinha de mim. Você não quis, e não teve. Mas isso você não percebe, não sente. Não se entregou, não abriu mão do que você tinha antes.
Você pediu confiança, apesar de não ter me dado razões pra confiar. Confiei. Quebrei a cara.
Agora, aquela palavra com "a" de amor, o amor... Eu o uso pra justificar porque tô tão bem. Acho que quando amamos, nós ficamos tristes só até não dar mais. Não deu. Aí parou.
Mas te peço uma simples coisa: entenda que eu não desisti. Eu prometi que tentaria até não dar mais. E não deu.
01/12/2012

insônia insana

agora neste espaço-tempo hoje quando minha cabeça desperta sem dó sentimentos enterrados e mistura com sentimentos florescidos e bagunça toda a zona uma vez já embonitada que foi, mais uma vez, bagunçada, misturada; e foi esquecida toda a segmentação e categorização onde você foi colocado nos perdidos, porque os achados estão próximos e têm seus donos; mas lá onde você foi colocado, nos perdidos, existem diversos sentimentos que não têm donos, não têm dó nem piedade, mas têm apenas rancor dor excesso de lágrimas excesso de entrega e excesso de excessos e escassez de qualquer coisa pura e indubitavelmente carente de compaixão, pois são sempre invasores como desabafos e perfuradores como faca de três, quatro gumes, já que a faca de dois gumes das vezes anteriores ainda não foi retirada - pelo contrário, está nos perdidos juntamente com este sentimento agora desenterrado; e a faca de quatro gumes que agora estes sentimentos são pra mim não me deixa escolha senão a fuga, pois quaisquer que sejam as razões pelas quais eles voltaram a florescer, agora de uma forma mais bonita com outra cor outro aroma outro sabor, as mesmas razões farão com que vão embora assim que eu puder me encantar, então não me encanto não canto não danço não leio não amo não amo não amo e repito mais uma vez para que não existam esquecimentos: não amo porque o amor dói e não dá escolhas e toma as rédeas e foge dos planos e acalenta e esquenta e depois esfria e congela e não há nada que se possa fazer a não ser procurar por meios de não amar, por mais pejorativo que seja à qualquer forma de não-redundância dizer assim, mas que seja, que fosse, que esteja, tanto faz como tanto fez, quem se importa?, se não há amor não há importância; não me importo não sei não sou, simplesmente fujo e fujo e fujo e quem sabe hora ou outra algo me para e me convence, mas enquanto não, não me deixe sair simplesmente sem explicações e não me deixe ficar se não me entender, mas principalmente não me deixe, porque não estou disposta a lhe deixar

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

diário falado

só que dessa vez eu tenho que falar. então por mais óbvia que seja a solução, me deixa fingir que ela não existe. preciso falar, porque tem uma coisa entalada na minha garganta que dorme, sonha e acorda comigo; e parece que ela se aproxima cada dia mais. quero só que você me escute. essa coisa da qual falei tem sido um porre. ela me persegue e eu fico entalada, mas engolindo. sabe quando a gente só finge que não é nada demais? mas no fundo é demais... tão demais que a gente opta por extravasar dos jeitos mais errados: nos excessos. tô ligada que eu sou o excesso mais estranho do mundo. leio demais. mas a ressaca literária é absurdamente matadora! eu meio que fico horas, dias, semanas num universo paralelo. meu estado é kinda alfa e... never mind. acho que todos os meus autores estão certos: love cures it all, baby. deve curar, mesmo. porque é a única coisa que eu não tentei. e jonathan safran foer disse "love me. because love doesn't exist and i've tried everything that does". será que dá pra gente comprar amor num potinho? eu ia gostar. acho que ia passar um pouco dessa coisa de fica na garganta. anyway, vida continua, a dor também. hora ou outra eu calo a boca. 'cê tem algo a dizer pra me melhorar? não, né? imaginei. pede outro café pra mim.

domingo, 29 de julho de 2012

criações ou realizações

Opto, geralmente, pelo mais complicado. Só pelo prazer de, talvez, um dia, olhar pra trás e dizer: “Fiz o meu melhor. Pelo mais difícil. E consegui”. Porque eu talvez tenha uma pontada de orgulho, meu bem. E que bom! Imagina que chato não seria se, talvez, por descuido, eu me mostrasse fraca e rastejasse aos teus pés sempre que te visse? Não creio que gostarias. Costumas dizer que a vida é um relance, que passa. Um ano ou dois lutando por algo que gostas não faria mal. Se não der certo, não deu. Tocaria nas horas vagas, disseste. Amo o tempo todo, disse. Pudera eu, talvez, entender o que você diz. De quando em quando me pergunto se és isso tudo que vejo ou se és só parcela disso, enquanto boa parte da baderna eu mesma criei para que tu te tornasse alguém admirável. Olho ao meu redor. Te conhecem. És assim. Se tudo que vejo de ti é real, por que raios escrevo isso num papel em branco que posteriormente acabará num arquivo morto e não numa carta bonita e perfumada que seria entregue diretamente a ti? Creio que… Não sei mais no que creio. Não sei exatamente até onde és o que és e até onde és o que espero que tu sejas para que venhas e cures minhas dores. Dores sombrias e intermitentes que não cessam. E não minto. Não cessam. Escondem-se. De tempos em tempos, escondem-se. Amarguram-me quando penso que cessaram e, subitamente, voltam.Te criei para que curasses essas dores. E então, continuas sendo apenas um relance da minha mente, uma criação do meu espírito. A resposta à minha solidão. Solidão afetiva - é assim que chamam. Te criei para que subitamente viesses e me beijasses e me encantasses com uma de suas melodias finitas - pois findam em algo bom, em um sorriso teu em resposta a um sorriso meu carregado de admiração e orgulho. Se não podes corresponder a esses montes e montes de sentimentos bagunçados, peço: guarda-me contigo. E leva-me além.