terça-feira, 8 de janeiro de 2013

História de Edinha (inha, inha)


Meu nome é Edna. Mais simples que Gerusa e mais complexo que Josefa. Edna. Com d mudo. Meu pai me chamava de Edinha até os dezesseis, quando casei com um homem da marinha, cujo nome era mais complicado que o de meu pai, José, e mais simples que o do tio Josebardo. O nome do homem da marinha era Ademir. Ademir Santana. Nunca tinha sido casado antes e, invocado que mantive minha castidade, pediu minha mão em casamento a meu pai, José. Minha mãe, dona Dalva, disse que só era pra casar se eu fosse de amar. Se eu não fosse de amar, era pra dar uns beijinhos e pular fora. Tentei, Ademir não deixou. Ademir era homem brabo, assim, de cara fechada e punho enorme. Nunca tive medo dele. Gostava muito de mim, dizia ele, pra fazer coisa assim. Aí que a gente se casou, mas não durou muito, não. Tivemos seis filhos em sete, oito anos. As crianças tem aí, hoje, seus cinquenta anos, o mais velho. Ainda são crianças, pra mim. Tive o mais velho, Darlan, quando tinha dezessete, dezoito anos. Não lembro muito bem, sempre me confundo. Não terminei a escola, sou boa de matemática não.
Acontece que dia desses fui trabalhar de costureira. Dona Dalva me ensinou a costurar em casa e me meti a ir numa fábrica, dessas que fazem lençol. Dei o currículo e me chamaram pra fazer um teste. Passei. Fui trabalhar lá. Falo pouco, sabem? Não gosto de laúza e nem de gente que mete o bedelho na minha vidinha, inha porque durou pouco, pra mim, porque só considero as coisas boas, então é vidinha de Edinha, amiguinho. E aí eu conheci Maria. Simples como Maria, mais simples que qualquer outro nome. Maria. E era Maria pra cá e Maria pra lá. Diferente de mim, Maria gostava que todos soubessem da vida dela. E falava. Ô, Maria, já tá causando de novo, é, Maria?, dizia a patroa, sempre bem humorada e sorridente. Maria, uma ótima cortadeira que tinha lá suas gafes, mas fazia bem. Sei bem que Maria não ia durar por esses cantos. Falava muito. Patroa era bem humorada, mas gostava de trabalho bem feito e que não xeretassem. Maria xeretava. Minha filha mais nova, Jade – nome chique! Ideia de Ademir – disse que ela, Maria, era muito bisbilhoteira. Gente bisbilhoteira tem que trabalhar com gente bisbilhoteira. Aí Maria foi desligada da empresa, que é o jeito mais bonitinho (inho também, porque de bom só tem que agora fumo meu cigarro sozinha... inha, porque...) de dizer que ela se mandou! A patroa, legal, simpática, mas impaciente pediu pra ela diminuir no blábláblá e aumentar na produção. Maria não gostou e levantou a voz, levantou a bunda da cadeira. Patroa se invocou, deu certo não. As duas quase saíram no tapa e Maria saiu pela porta da frente.
Contei pra Jade e pra Darlan, quando cheguei em casa. Darlan se matou, sem morrer, de rir da cara de Maria: nunca se bicaram. Jade me mandou tomar cuidado, Patroa duas caras, ri na frente, mete o socão atrás, dizia ela. Melhora esse palavreado, Jade!, insistia sempre. Não gosto dessas ideias de bater nos outros, é feio. Feio mesmo. Nunca gostei de Maria muito, também, não, por causa disso: gostava muito de ameaçar os outros. Vou te matar!!!!!!, Maria falava sempre, se invocava, ficava vermelha feito um pimentão. Nunca matou ninguém. Acho eu, que moro sozinha (inha, porque...) e tenho esses meus seis filhões (ões, porque, bem, são meus, são grandes e tudo que vem deles é pra lá de bom) que vem jantar aqui em casa quase todo dia. Gostam do meu risoto de frango.

(Continua)

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